Como o compliance vai mudar o futuro das indústrias no Brasil


 
Compliance. O nome parece difícil, mas está muito presente na sua rotina. Vem do inglês “comply”, que significa “cumprir”. No dia a dia, pode ser traduzido como a ética e a transparência presentes em tudo o que você faz, seguindo sempre as regras.
 
 
No setor privado, o termo entrou na pauta há poucos anos. Mais precisamente a partir de 2013, com a sanção da lei anticorrupção. Uma lei que trouxe a responsabilidade sobre atos ilícitos para as pessoas jurídicas; mesmo quando praticados por funcionários ou outras pessoas que tenham algum vínculo com as empresas. “Antes disso, a postura era muito reativa. As empresas se preocupavam em desenvolver ou aprimorar programas de integridade quando seus nomes já estavam envolvidos em questões judiciais. O compliance é uma forma de defesa para os negócios, contribui para evitar este tipo de situação”, conta Marco Antônio Guimarães, Gerente Executivo Jurídico, de Riscos e Compliance do Sistema Fiep.
 
Ética nos negócios: ferramenta para a competitividade
 
Dá para imaginar por que o compliance tem se tornado o centro das atenções? Enquanto os noticiários falam diariamente sobre corrupção, jogar de acordo com as regras, de forma ética e transparente, virou condição essencial para manter-se no mercado. Todos os elementos do programa têm como finalidade melhorar o ambiente de negócios. São diversas áreas envolvidas: do jurídico à gestão de pessoas, da ética à responsabilidade socioambiental.
 
Eduardo Feliz, Diretor Comercial da Granotec, conta que a empresa começou a trabalhar com gestão de compliance em busca de maior eficiência: “percebemos que isso faz parte do processo de amadurecimento das indústrias. É preciso focar a atuação na transparência, no zelo pelo relacionamento com entidades públicas”, relata. Mas o programa trouxe à Granotec um olhar mais amplo sobre o cenário. “O compliance tem ganhado contornos maiores. A sociedade quer saber de onde vêm os produtos, como é o relacionamento da empresa com os funcionários, como ela trata o terceiro setor, entre outros. É um elemento competitivo de dimensões muito grandes”, explica Eduardo.
 
Primeiro passo do compliance: conscientização
 
Não há como implantar o compliance sem que haja comprometimento. Algo que começa na alta direção e passa por todas as áreas de uma indústria. Segundo Marco Guimarães, nem todas as empresas precisam criar um comitê específico para fazer a gestão. O importante é que toda a cadeia produtiva trabalhe seguindo os mesmos princípios éticos, legais e de condutas estabelecidos no programa.
 
Ele também conta que o mercado já demonstra uma mudança de mentalidade. “No Rio de Janeiro, por exemplo, uma política pública recente obriga todos os fornecedores do estado a terem programas de compliance. Em outras regiões, há instituições que analisam a eficiência do programa para conferir títulos e certificações”, destaca Guimarães.
 
Foi com base nestas novas exigências do mercado que a Granotec iniciou a gestão de compliance. Eduardo Feliz conta que a decisão foi fruto de um aprimoramento no processo de governança: “também percebemos que o compliance passou a ser uma exigência da cadeia em que atuamos. Foi preciso adequar nossos processos a um novo momento da indústria”, destaca.
 
Desafios do compliance para as empresas do Paraná
 
O diretor Comercial da Granotec acredita que a mudança de cultura vai trazer vantagens no futuro: “o tema ainda é novo, mesmo nas grandes empresas. A indústria paranaense vai começar a perceber que esta é uma grande oportunidade. Um diferencial que vai mostrar nossa competência e nosso dinamismo muito além das nossas fronteiras”.
 
Para encarar o desafio de promover mudanças no setor, a Fiep tem realizado roadshows em várias cidades. O objetivo é ampliar a conscientização do empresariado sobre o compliance.
 
Marco Guimarães conta que já é possível notar um novo movimento. “O interesse das indústrias em compliance tem crescido. Observamos isso em setembro, durante nosso roadshow. Tivemos um público bastante expressivo em todas as cidades. As indústrias já perceberam que trabalhar em compliance traz resultados positivos e leva ao crescimento. Um dos efeitos da corrupção, por exemplo, é uma distorção da livre concorrência – algo que pode ser extinto com a ampliação do programa a todos os negócios”, detalha Guimarães.
 
 
A preocupação com a ética deve levar a iniciativa privada a um momento muito mais positivo. Na Granotec, já é possível perceber os primeiros sintomas. A fornecedora de soluções alimentícias é procurada por escritórios de compliance, parceiros e fornecedores. Todos em busca de trocar experiências e conhecimentos sobre o programa recém-implantando na empresa. “Além de ser ótimo para os negócios, essa troca também demonstra que o assunto deve se tornar cada vez mais relevante para o setor industrial. É um processo de transformação cultural ”, finaliza Eduardo Feliz.
 
O compliance no futuro das indústrias
 
Para 2018, a expectativa é de que o compliance ganhe força, com destaque para iniciativas focadas na implantação prática dos programas. Passada a fase de mudança cultural, será a hora de trabalhar nos principais elementos relacionados ao assunto. Entre eles estão a análise de riscos, a criação de políticas internas, o estabelecimento de canais de comunicação e o treinamento dos funcionários.
 
O Gerente Executivo Jurídico, de Riscos e Compliance do Sistema Fiep destaca que o investimento na área aumenta significativamente a competitividade e cita algumas das principais vantagens da adoção do compliance:
 

  • Reduz a exposição da companhia a riscos relacionados a conformidade e condutas antiéticas;
  • Reduz eventuais passivos: multas, indenizações, falhas operacionais;
  • Agrega valores essenciais para a longevidade dos negócios, como boa reputação e transparência;
  • Gera novas oportunidades de negócios;
  • Melhora a política de governança, instituindo padrões e práticas.

 
 
Sabia que todas as empresas podem ter programas de compliance?
 
Isso é possível porque não existe uma fórmula pronta para criar um programa próprio. Ele só precisa ser proporcional ao tamanho da empresa e ao nível de exposição a riscos. Pode ser um programa sofisticado ou uma gestão mais simples para pequenos negócios, por exemplo. O próximo passo para as indústrias deve ser o fortalecimento do conceito nas micro e pequenas empresas, abrangendo toda a cadeia produtiva.
 
 
De olho no futuro, o compliance deve, aos poucos, integrar-se naturalmente às rotinas industriais. E promover uma transformação que impacta toda a sociedade, do empresário ao consumidor final. “A imagem de uma empresa é a coisa mais valiosa que existe no mundo dos negócios. Trabalhar com ética e organização garante a sustentabilidade de uma marca. Tudo isso tem levado a uma transformação da cultura organizacional. O compliance passa longe de ser um ‘manual de boas práticas’. É um atributo de negócios”, finaliza Marco Antônio Guimarães.
 
Fonte: G1 Globo
 

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