Pesquisa inédita realizada pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) revelou que 55% das firmas respondentes associadas à entidade faturam até R$ 3,6 milhões por ano. Entre as não associadas, esse patamar abrangeu 43% das entrevistadas. Das que responderam ao questionário, 15% afirmam ter um faturamento anual superior a R$ 500 milhões.
Essas são algumas das informações constantes de levantamento realizado pelo Ibracon, que revelou o perfil de uma amostragem bastante expressiva do mercado.
O estudo foi realizado entre os meses de outubro e dezembro de 2017, com pessoas físicas associadas ao instituto e firmas de auditoria associadas e não associadas, de maneira que se pudesse fazer uma análise da auditoria independente no País, bem como traçar um panorama da profissão, dos profissionais e os desafios enfrentados.
De acordo com o levantamento, percebe-se que o setor apresenta uma preocupação acentuada com o desenvolvimento tecnológico e a adequação aos novos regulamentos e normas, encarando esses pontos como alguns dos desafios a serem enfrentados. A pesquisa também indica que, justamente por conta dessas análises, há um substantivo investimento em tecnologia e na capacitação dos profissionais.
“O Brasil é um país que audita pouco, mas que tem muito potencial de crescimento e investimento no campo da auditoria”, declara o presidente do Ibracon, Francisco Sant’Anna. “Com essa pesquisa, conseguimos conhecer melhor o perfil do setor, suas perspectivas e as dificuldades.
Dessa forma, podemos trabalhar de modo mais eficaz no crescimento e valorização da profissão, além das nossas bandeiras, como a nossa contribuição para um País mais ético, justo e transparente.”
JC Contabilidade – O que motivou a realização dessa pesquisa? Ela já havia sido feita em outro momento?
Francisco Sant’Anna – Ela não havia sido feita, e a gente tinha um interesse grande de fazê-la de uma forma independente, e foi assim que fizemos, contratamos uma empresa especializada e, mantendo todo o sigilo e privacidade da pesquisa, analisamos como o nosso associado, tanto pessoa física quanto pessoa jurídica, estava enxergando a contribuição do instituto e se existia carência, o nível de satisfação; e também identificar quem é esse nosso associado em termo de faturamento, número de funcionários, preocupação com investimentos em treinamentos ou tecnologia, regulamentação.
Aproveitando essa pesquisa, também fizemos uma avaliação do universo, ainda pequeno, de empresas que auditam companhias abertas, mas que não são ainda associadas ao Ibracon, para entender se o perfil é próximo do nosso associado, que mundo é esse e como pensam de uma forma independente.
Seriam empresas menores de auditoria, já que as maiores já são associadas. Em auditoria temos empresas de grande porte, que são poucas, apenas 6, e firmas de médio e pequenos porte. Quando pega empresas de grande porte, e até de médio porte, elas têm centenas de funcionários.
Contabilidade – E os resultados da pesquisa são bastante semelhantes entre as empresas portes diferentes?
Sant’Anna – São bem próximos. O que nos encontramos de mais diferente é, por exemplo, em relação aos principais desafios apresentados pelas firmas que são e que não são associadas do Ibracon.
O principal desafio para ambas é atrair novos clientes. A diferença grande cabe ao segundo maior desafio do associado, que é o desenvolvimento tecnológico, enquanto para o não associado é adequar-se aos novos regulamentos e normas. Isso era esperado porque nós, Ibracon, provemos muito aos nossos associados, através de grupos de trabalho e outras iniciativas, atualização técnica. Quem não é associado fica aquém nesse processo de educação.
Contabilidade – E em relação à preocupação com desenvolvimento tecnológico, você acredita que está mais ligada à dificuldade em corresponder às necessidades dos clientes ou estar apto dentro da empresa para gerir os softwares e lidar com as novas tecnologias?
Sant’Anna – É questão ligada à tecnologia interna mesmo. Nesse mundo disruptivo em que estamos vivendo, as empresas todas têm uma velocidade rápida, têm investido muito em tecnologia e ministrado suas operações com alta dose tecnológica bastante recente; e o auditor precisa acompanhar esse movimento, precisa também estar utilizando essa tecnologia da forma correta e útil.
Então o desenvolvimento tecnológico é uma preocupação nesse sentido. E nós aqui do Ibracon também temos essa preocupação, por isso temos estudado muito sobre isso, e temos projetos em desenvolvimento para poder acompanhar o que está acontecendo no mundo, objetivando contribuir com orientações nesse sentido para melhor adaptação da auditoria brasileira ao mundo atual.
Contabilidade – Na sua opinião, a auditoria e o uso das tecnologias aqui no Brasil está no mesmo patamar dos mercados internacionais?
Sant’Anna – A informação hoje é muito rápida, e o mundo todo está buscando isso. O importante é vermos o que está sendo praticando, continuar buscando e partilhar informações. Até no Ibracon, temos o objetivo de munir todo o mercado de informação e participação.
Criamos, há algum tempo, um grupo de trabalho só para pequenas e médias firmas de auditoria. Na diretoria nacional, tem uma diretoria específica para empresas desses portes, a fim de dar subsídios a essas organizações, que têm maior dificuldade em investir e acompanhar as novidades, para que se mantenham por dentro.
Contabilidade – Um ponto bastante citado também é a questão dos novos regulamentos e normas de auditoria, em especial o Noclar. Como o Ibracon vê esse cenário e trabalha para que os auditores estejam mais capacitados a encarar essas normas?
Sant’Anna – Hoje, vemos um volume muito grande tanto de normas contábeis, sobre as quais os profissionais precisam estar preparado para auditar, quanto de auditoria. Quanto a essa questão contábil, têm tido pronunciamentos técnicos recentes transformando a forma de registrar a contabilidade e demonstrar os negócios.
Paralelamente, temos também observado movimentação muito grande no ambiente de auditoria, tem a questão do ceticismo no Iesba, a questão do próprio Noclar – que, no Brasil, para poder adotar essa regra, precisamos de uma proteção legal ainda.
São movimentos que têm acontecido, o Brasil é signatário; e eu acho que, na essência, só relevam a profissão de auditoria como de interesse público. A própria questão que eu te falei da ética, do ceticismo profissional que está sendo discutido.
Essa preocupação com a qualificação, com a ética, a importância do auditor para o mercado como item fundamental ao funcionamento do mercado de capitais, é muito positiva. Temos tido também feedback positivo dos próprios reguladores e queremos caminhar de mãos dadas, cada vez mais, pela segurança do mercado de capitais.
Contabilidade – Como a auditoria independente pode contribuir com o ambiente de negócios para o futuro e seu envolvimento e responsabilização desse profissional?
Sant’Anna – O auditor, quando executa a auditoria das demonstrações financeiras, não é contratado para identificar algum tipo de fraude específica, ainda que faça parte do seu trabalho estar atento às questões relevantes da empresa.
Tudo que tem ocorrido no Brasil, esse movimento da sociedade tentando mitigar comportamentos inadequados que se projetaram muito nos últimos anos, acaba gerando um ambiente de certa forma positivo e que aumenta a sensibilidade e preocupação de todos os stakeholders que estão no processo.
Quando se tem algum caso negativo, no processo ideal de governança, no momento em que ocorre deveria ter estruturado um conselho, comitê de auditoria, auditoria interna, para prevenir e mitigar esse tipo de risco quando ocorre.
Depois vêm o auditor e o regulador. Quando se pega um processo completo, o auditor e o regulador entram no seu conjunto para uma segurança maior para o mercado, para o investidor.
Com tudo que ocorreu, a sensibilidade está mais aguçada entre todo mundo, e as empresas têm investido na identificação do problema o quanto antes. No fundo, tudo isso é muito bom para o mercado. É um caminho de transparência e de melhora.
Fonte: Jornal do Comércio do RS