Uma eventual aprovação, mesmo que apenas da idade mínima para a aposentadoria, seria uma “batalha a menos” para o novo governante do País e reforçaria o poder do atual governo para fazer outras reformas, como a tributária.
Porém, o ex-ministro admite que está mais difícil ver a reforma passar no Congresso em 2018, uma vez que os parlamentares já extraíram todos os benefícios que podiam do atual presidente.
Para ele, não há plano B e, sem reforma, a conta já não fecha no próximo governo. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Na sua avaliação, a reforma da Previdência será aprovada?
Está mais difícil de passar. Os (parlamentares) já extraíram do governo os benefícios que podiam e sabem que o próximo presidente não terá maioria e portanto poderão extrair mais vantagens.
Se passar, vai ser um negócio tão leve que não vai resolver e quando chegar em 2020 o País terá problema. Porém, seria melhor se passasse agora, pois reforçaria o poder do governo para fazer outras reformas. Mas se for muito leve, o próximo presidente terá de fazer outra.
Aprovar a idade mínima já seria importante?
Seria importante, mas não para efeito imediato. Porém, seria uma batalha a menos para o próximo presidente. Temer está usando sua habilidade política para fazer algumas reformas que nunca ninguém fez.
Em 30 meses, ele mudou a cara do Brasil. Toda essa crítica fanática que existe (ao presidente) é produto de incompreensão. O Brasil hoje é relativamente inadministrável.
Se a reforma da Previdência é tida como essencial, por que há tanta dificuldade em aprová-la?
A coisa mais elementar era que os partidos que querem se eleger, digamos o PSDB, apoiassem a reforma imediatamente, para pôr nas costas do Temer.
Mas eles são absolutamente incapazes. Se o PT acha que o Lula pode ser eleito, a melhor coisa seria apoiar a reforma. No dia 1.º de janeiro, Temer vai embora. O que ele está fazendo não é pra ele, é para o próximo presidente.
O que faltou ao governo para conseguir aprovar a reforma da Previdência?
O governo foi incapaz de transmitir a ideia de que a reforma não atinge o mais humilde. Faltou esclarecimento. Há dois terços de pessoas que se aposentam por contribuição e um terço por tempo de serviço.
De forma que o mais pobre já se aposenta com 65 anos. Existe uma apropriação do poder pela alta burocracia do governo, que não quer perder o privilégio.
O Legislativo tem as mais altas médias de salário. Há profunda injustiça distributiva. O governo foi incapaz de transmitir isso para a sociedade.
Haveria um plano B caso a reforma da Previdência não seja aprovada este ano?
Não tem plano B. A reforma originalmente proposta pelo governo resolveria o problema. É muito bem estudada. A burocracia que produziu a reforma vai ser toda atingida.
O objetivo fundamental da lei é que todos se aposentem pela mesma lei e que tenham como limite superior o INSS. Uma coisa é segura, a demografia não perdoa, o Brasil está envelhecendo muito rapidamente.
Hoje tem cerca de um aposentado para cada cinco trabalhadores. Em 2050, será um aposentado para cada dois trabalhadores. O sistema é insustentável. É um absurdo imaginar que o brasileiro se aposente com 100% do salário da atividade. Em outros países é ao redor de 50%.
Fonte: Época Negócios