Esta é a história de Dona Afunda:
“Dona Afunda era uma mulher ocupada. Trabalhava na SuaBeleza, uma empresa de cosméticos na sessão de embalagens. Há 11 anos, durante 8h por dia, inspecionava 7100 embalagens de batom para certificar a ausência de defeitos. Não podia se distrair. Não podia conversar. Não podia perder um detalhe das tais embalagens de batom. Dona Afunda era uma mulher ocupada.
Desgostosa do trabalho, as horas de almoço serviam de descarrego. Reclamava da empresa, reclamava do chefe, reclamava dos colegas de trabalho, reclamava da linha de produção, reclamava da falta de oportunidade, reclamava das coitadas das embalagens de batom. Eram tantas as lamúrias que mal dava tempo para almoçar. Reclamava, até, da falta de tempo para reclamar. Dona Afunda era uma mulher muito ocupada.
Setembro era o mês das promoções. A empresa exigia que os funcionários tivessem participado, ao menos, de dois cursos internos, escolaridade compatível e que tivessem conseguido bater as metas do ano.
Os cursos internos eram ofertados gratuitamente, no entanto, fora do horário de trabalho. A participação era opcional. Dona Afunda achava um absurdo e sempre pedia que seu colega Seu Mérito fosse para que depois a ensinasse o conteúdo. Seu Mérito foi promovido. Dona Afunda, mesmo muito ocupada, continuou a inspecionar embalagens.
Quando fez 10 anos de empresa, a SuaBeleza ofereceu para Dona Afunda uma bolsa de 20% na Faculdade Viva Feliz. Dona Afunda passou a bolsa para a Dona Aproveitosa, afinal de contas, estudar depois do trabalho seria cansativo demais. Dona Aproveitosa ganhou aumento depois que concluiu a graduação. Dona Afunda, muito ocupada, não pode fazer a faculdade e, por isso, também não pode participar do plano de incentivo anual.
Para Dona Afunda, a empresa tinha obrigação de lhe dar um bom chefe e que este traçaria sua guinada profissional. Para esta senhora, 11 anos de trabalho eram mais que necessário para que ela continuasse apenas olhando a qualidade de simples embalagens. Ninguém fez nada por Dona Afunda. E ela continuava a se ocupar em apenas reclamar.
Ai, Dona Afunda era mesmo muito ocupada. Ocupava, e muito, em não se ocupar e, apenas, esperar.
Dona Afunda chegava muito cansada em casa e ficava com preguiça de rezar antes de dormir. Pedia, então, que sua mãe rezasse por ela. Sua mãe foi para o céu. Dona Afunda para o inferno.”
Você tem que ser o protagonista da sua vida profissional. Não deposite a responsabilidade das conquistas em meros figurantes. O papel deles é outro. O papel deles é apenas contextualizar. Fazer a cena dar certo é dever seu. O que você, caro leitor, está esperando?
A carreira é sua. A escolha de ir para o céu ou para o inferno também.
Por: Kelly Cavalcanti Gallinari*
Fonte: www.incorporativa.com.br