Projeto que cria isenções fiscais para transportadoras é aprovado


Em meio às polêmicas sobre a bolsa caminhoneiro, a Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 20, uma série de medidas que beneficiam principalmente as transportadoras. O projeto permite que o setor de transporte pague menos impostos e prevê até alíquota zero em tributos como IPI e PIS/Cofins para a renovação da frota de caminhões. O texto ainda precisa passar pelo Senado.
 
 
A aprovação do projeto na Câmara teve apoio inclusive de integrantes da base aliada e ocorre num momento em que a equipe econômica ainda precisa lidar com a pressão de grupos econômicos que acabaram pagando parte da conta do bolsa caminhoneiro, que soma R$ 13,5 bilhões. O setor de refrigerantes e o de indústria química, por exemplo, tiveram incentivos reduzidos pelo governo e brigam para restabelecer os benefícios.
 
 
A Receita Federal ainda está calculando os impactos potenciais do projeto. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o governo vai trabalhar para derrubar no Senado as iniciativas que tenham impacto fiscal. “O governo não tem sobra de recursos no Orçamento para conceder mais recursos aos caminhoneiros”, diz o economista Juan Jensen, sócio da 4E Consultoria. “Isso implica que outros setores ou a sociedade como um todo banquem esses incentivos.”
 
 
O relator do projeto, Nelson Marquezelli (PTB-SP), minimizou os possíveis efeitos fiscais das medidas. O deputado é dono de uma transportadora que distribui produtos da Ambev. Marquezelli nega conflito de interesses e diz que a empresa hoje pertence aos filhos, embora ainda se refira a ela como se fosse proprietário. “Eu tenho uma revenda… eu tive uma revenda que é uma das três maiores da Ambev”, disse.
 
 
O texto aprovado ontem na Câmara prevê a criação de um plano nacional de renovação de frota de caminhões, com financiamentos em condições diferenciadas, como juros menores e prazos mais longos. As empresas que aderirem ainda serão agraciadas com a redução das alíquotas de PIS/Cofins e IPI sobre os caminhões novos a zero.
 
 
Marquezelli evitou fazer cálculos da renúncia fiscal e disse que a redução da alíquota é “apenas uma sugestão” ao governo. Segundo ele, o setor estima uma taxa de renovação de 10% a 12% ao ano com esse projeto.
 
 
O texto ainda retira o valor dos pedágios da base de cálculo do PIS/Cofins. Outro artigo isenta o valor pago em vale-pedágio de qualquer incidência de tributo. Pelo texto, há ainda a possibilidade de as empresas usarem o valor pago em pedágios para abater Imposto de Renda.
 
 
O projeto ainda converte multas emitidas pela ANTT a caminhoneiros que fugiram da fiscalização até a data da publicação da lei em advertências. Na avaliação de consultores, esse artigo pode gerar cobrança dos caminhoneiros à União para que sejam restituídos valores de multas já pagos.
 
Ele ainda disse que o setor de transporte rodoviário de cargas não deveria receber tantos benefícios porque é causador de efeitos negativos à população, como poluição e trânsito.
 
 
Sem impacto fiscal, o projeto ainda amplia a pontuação máxima na carteira de motorista dos caminhoneiros de 20 para 40 pontos – exceto quando houver infrações graves ou gravíssimas.
 
 
 
Fonte: Estadão

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