Indústria volta ao patamar de 2009

O resultado positivo do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, de crescimento de 0,2% ante o trimestre anterior, divulgado na sexta-feira (1º) pelo IBGE, sinalizou que a recessão brasileira caminha para o fim. Mas a indústria ainda causa preocupação. Os números mostram que o PIB industrial registrado entre abril e junho está no mesmo patamar do terceiro trimestre de 2009.
 
O desempenho negativo da construção civil foi o principal fator a derrubar os resultados da indústria no PIB. No segundo trimestre, o setor industrial recuou 0,5% em relação aos primeiros três meses do ano. Na comparação com o mesmo período do ano anterior, a retração foi de 2,1%. A construção responde por cerca de um quarto da indústria.
 

“Se olharmos neste instante, os sinais de recuperação da construção civil ainda são mínimos. Há uma perspectiva de retomada a partir do ano que vem, com uma Selic na casa dos 7%, que colocaria o mercado imobiliário em outra realidade”, diz José Carlos Martins, da Câmara Brasileira da Indústria de Construção (Cbic). “O que o nosso setor sente é que ainda é preciso atravessar um rio, seja de que jeito for, para chegar vivo ao outro lado. Ninguém espera resultados espetaculares, a gente só espera chegar vivo.”

 

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que, apesar de os resultados da indústria ainda serem preocupantes, há mais sinais de recuperação do que nunca.

 

“Já é possível perceber uma reação no segmento de máquinas e equipamentos, por exemplo. A construção, de fato, demora mais tempo para sair do vermelho, mas ela vai reagir assim que o ambiente econômico estiver mais claro.”

 

“Para o terceiro e quatro trimestres, há também perspectivas positivas para o segmento de automóveis”, diz Vale. Em agosto, o emplacamento de veículos teve alta de 14,76%, segundo a Fenabrave, que representa concessionárias.

 

Segmentos da indústria de transformação reclamam, porém, que a taxa de câmbio não tem favorecido uma retomada mais robusta do setor.

 

“Há muito tempo as projeções mostram que o dólar deveria estar um patamar superior, com o real mais fraco, e isso não tem acontecido. Há grande aumento de custos, seja de energia, seja de insumo de um modo feral, e o real continua fortalecido”, diz Ricardo Neves de Oliveira, diretor executivo do Sinproquim (Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica).

 

Na indústria química, que detém a quarta maior fatia da indústria de transformação, o crescimento previsto para este ano é de, no máximo, 0,5%.

 

DEBILIDADE

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central, lembra que a grande capacidade ociosa que ainda ronda a indústria e posterga investimentos ajuda a entender a queda nos investimentos no segundo trimestre, que voltaram ao mesmo patamar do segundo trimestre de 2009.

 

“A construção civil também não tem ajudado e não deve vir particularmente forte nos próximos trimestres.Para além da economia, um outro fator que atrapalha a volta dos investimentos é a baita incerteza política, a gente não sabe quem vai ser eleito no ano que vem e a escolha vai ser decisiva para os rumos do ajuste fiscal”, diz.

 

“Quando nos damos conta de que, de todos os componentes do PIB no segundo trimestre, o único com resultado expressivo é o consumo das famílias, não dá para fechar olhos. Ainda faltam componentes dinâmicos, para continuarmos crescendo”, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

 

CONSUMO

No campo positivo, o consumo das famílias até ajudou a embalar o PIB do segundo trimestre, mas o resultado do segundo trimestre ainda ficou distante do pico da série do IBGE, registrado no último trimestre de 2014, data da reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff e antes do agravamento da crise.

 

As exportações também atingiram números expressivos no segundo trimestre, principalmente por conta do petróleo, soja e minério.

 

“O segundo semestre deve manter o ritmo de mais exportações do que importações, até pelo reflexo da baixa demanda interna”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

 

Fonte: Época Negócios

 

 

 
 
 
 
 

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