Ao acompanharmos a movimentação da Bolsa de Valores, observamos que na maioria dos casos as ações têm uma movimentação favorável quando empresas desmobilizam o seu capital. Nas últimas semanas tivemos por exemplo grandes grupos que anunciaram a venda e negociação de alguns de seus ativos, como a BRF, Vale e Petrobras. De imediato, o mercado reagiu positivamente às decisões tomadas e anunciadas por enxergar que este foi um alívio.
Pelas mais diversas razões as empresas enfrentam dificuldades em seus negócios com sérias repercussões sobre o fluxo de caixa. Os gestores em conjunto com o Conselho de Administração após analisarem as diversas alternativas concluem que o mais viável seria se desfazer de alguns negócios responsáveis pelo mau desempenho. As decisões são tomadas dentro de um contexto de plena racionalidade objetivando a manutenção e ou recuperação da empresa.
Agora vamos voltar os olhos para o universo das empresas familiares. Para muitas delas enfrentando dificuldades de ordem econômico-financeira, medidas de desmobilização se enquadram na categoria do impensável. Se nas empresas de capital aberto o Conselho de Administração toma decisões baseadas em fatos e resultados, em empresas familiares o componente emocional ocupa boa parte do cenário sobrepondo-se às análises frias e realistas.
Imaginemos um grupo familiar cujo negócio de origem apresenta prejuízos, sorvendo recursos financeiros das outras empresas do mesmo grupo que cresceram e prosperaram ao longo do tempo. Todos esforços são feitos para que o primeiro negócio continue em pé, por razões sentimentais. Sócios e gestores são obrigados a investir muito mais tempo do que deveriam nessa missão. O mais sensato seria encerrar as atividades dessa unidade de negócios. Entretanto tudo é feito para salvá-la.
As pressões são inúmeras contra o fechamento deste primeiro negócio do grupo.
Em primeiro lugar temos a influência da família que tem dificuldades em admitir que as portas da empresa-mãe precisam ser fechadas.
Para os familiares é como o chão que lhes fosse tirado debaixo dos pés.
Em segundo lugar, os próprios gestores têm receio em relação ao impacto institucional negativo que a notícia poderia causar sobre os stakeholders. Por fim, a falta de uma estrutura de governança corporativa adequada dificulta muito uma tomada de decisão deste vulto.
Observamos igualmente que muitas empresas familiares sofrem um constante processo de descapitalização ao longo dos períodos em que os negócios estão indo bem. Os sócios fazem uma distribuição de lucros sem levar em conta o planejamento empresarial. Na maioria dos casos, falta uma política adequada voltada à repartição dos ganhos.
De uma hora para outra a situação dos negócios pode se inverter levando a empresa enfrentar dificuldades. Os resultados operacionais começam a afetar o caixa. Os gestores são obrigados a recorrer às instituições financeiras para captar recursos. As elevadas taxas de juros começam a pesar cada vez mais no desempenho da empresa. Para muitos empresários é uma situação nova ou há muito tempo não vivida. O que resta fazer se a busca de recursos junto ao mercado se torna inviável?
Fica a dica para quem está enfrentando este cenário: agir racionalmente, mesmo sendo uma empresa familiar. Os números é que deverão orientar a tomada de decisões e não o histórico da empresa; não ter medo de parar com a fabricação de certas linhas de produtos menos rentáveis ou fechar unidades de negócios que estão no prejuízo; elaborar uma política de distribuição de lucros; constituir, caso não exista, um conselho de administração que acompanhe o desempenho econômico financeiro da empresa; preparar a família sobre a necessidade de uma eventual desmobilização de bens familiares para capitalizar os negócios da família.
Artigo por Thomas Lanz – Fundador da Thomas Lanz Consultores Associados
Fonte: Jornal do Comércio