Não há projeto viável, não há melhoria de vida, não há soberania, não há lei, não há paz, não há justiça social, não há solidariedade e, mais do que tudo, não há esperança onde impera a corrupção.
A corrupção distorce o processo decisório. Em qualquer atividade ou instância. Não há boa decisão onde a escolha entre as opções existentes é imposta por fatores que não são discutidos, simplesmente porque são inconfessáveis. Pode-se dizer que essa é a gênese da corrupção, contaminando todas as atividades de uma sociedade.
A corrupção desorganiza a economia. Da formação de custos à participação nos lucros. A cobrança de valores não justificados pelo trabalho ou pelo capital insere uma variável espúria na atividade econômica que lhe rouba produtividade e competitividade.
A corrupção é a matriz da pobreza e do atraso.
A corrupção inibe o desenvolvimento. Do investimento ao direcionamento de recursos. A falta de critérios claros e objetivos na aplicação de investimentos prejudica o retorno dos dividendos e afasta novos investidores, aumentando cumulativamente a carência de capitais para financiar o desenvolvimento. A corrupção anda de braços dados com o subdesenvolvimento.
A corrupção compromete a defesa e a segurança. Da perda da noção de Pátria à falta de determinação em defende-la. A corrupção se legitima pela leitura amoral da História, dela expurgando os feitos militares que inspiram patriotismo, civismo e determinação. O poder corrupto só precisa das forças armadas para defende-lo, não à Nação, que ele entende por patrimônio exclusivamente seu.
A corrupção anula a justiça. Da politização da justiça à judicialização da política. Tanto uma como outra pelo conluio de políticos e magistrados que se constituem em uma classe de cidadãos com justiça própria. Em um país tomado pela corrupção, a lei não é para todos.
A corrupção estimula a violência. Da perda de confiança na justiça à certeza da impunidade. A disfuncionalidade de um sistema judicial tomado pela corrupção estimula a busca de soluções extrajudiciais que tornam o crime mais aceito, retroalimentando a corrupção. Ela deixa de ser crime por que ele compensa.
A corrupção aumenta a desigualdade. Da perenização da miséria à sua exploração. Ela usa os pobres para extorquir dinheiro de todos e aumentar a riqueza de poucos. Não há ditadura que não seja corrupta, porquanto o fim de toda corrupção é o poder absoluto.
A corrupção impede a meritocracia. Da negação do mérito à consagração do servilismo. Ela sujeita os critérios de capacidade e competência aos do seu utilitarismo. Fora dela não há valor, só ostracismo, e contra ela certamente perseguição ou até destruição. A corrupção tende a ser um sistema fechado, fora do qual nada de relevante pode existir.
A corrupção desfaz os laços sociais. Da perda de respeito ao desprezo, por tudo. Não há certo ou errado, bem ou mal, nem bom ou mau. Ela impõe a sua lei moral em que os únicos laços entre os indivíduos são da cumplicidade que é tanto maior quanto mais elevada seja sua posição na hierarquia criminosa. Com exceção dessa regra de ouro, a corrupção passa por cima de tudo.
Por fim, a corrupção inviabiliza a democracia. Da escolha dos representantes pelo povo à sua atuação contra o povo, à vista do que se enumerou anteriormente.
Não há projeto viável, não há geração compartilhada de riqueza, não há melhoria de vida, não há soberania, não há lei, não há paz, não há justiça social, não há reconhecimento, não há solidariedade e, mais do que tudo, não há esperança onde impera a corrupção.
Porque democracia é, acima de tudo, esperança. Esperança guiada pela noção de bem comum promovido pela ação política sã, jamais perversa como a que hoje nos devasta.
Sem esperança, as pessoas deixam de participar da atividade política e diluem sua cidadania em algo que não é mais sociedade, mas tão somente uma massa de manobra ideal para a consecução dos piores objetivos, sejam eles autoritários, totalitários ou meramente salafrários.
É o que está nos sendo imposto, todos os dias, quando nos curvamos aos bandidos de largo espectro que infestam a vida social do País.
Não há alternativa senão combater a raiz de todos os crimes e de todos os males do Brasil: a corrupção.
Urgentemente, antes de qualquer coisa. Absolutamente, acima de qualquer coisa.
Razões é que não faltam.
Por Sérgio Paulo Muniz Costa
Fonte: Jornal do Comércio